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Como a medicina está avançando no tratamento da endometriose intestinal

dez. 02, 2019

Antes de falar sobre a evolução dos tratamentos para a endometriose intestinal, vamos entender o que é esse problema.

O endométrio é um tecido localizado na parede interna do útero, que todo mês aumenta a sua espessura para receber um embrião. Quando não há fecundação, o excesso deste tecido é expelido através da menstruação. Em alguns casos, porém, o sangue que deveria sair do corpo com a menstruação é direcionado para a cavidade abdominal, aumentando a chance de surgir a endometriose. O refluxo da menstruação não é suficiente já que ocorre em 80% das mulheres mas apenas 5-10% delas terão endometriose de fato.

A endometriose intestinal, especificamente, é caracterizada pela presença de endométrio ao redor das paredes do intestino, algo que pode ocorrer em 8 a 12% das mulheres que desenvolverem endometriose.

Esse assunto já foi abordado em nosso blog e pode ser visto detalhadamente no texto O que é a Endometriose Intestinal?

Tratamento

É possível tratar a endometriose com hormônios, como os análogos de GnRH, um medicamento que causa queda na produção de estrógenos ovarianos, igualando suas taxas às existentes no período da menopausa. No entanto, diversos estudos mostram que causam muitos efeitos colaterais e não são superiores às pílulas anticoncepcionais combinadas para o controle da doença. Outras opções que podem ajudar no controle dos sintomas, são as pílulas anticoncepcionais e os DIUs hormonais, que funcionam bem na maioria das pacientes.


Quando a doença chega ao estágio de atingir o intestino, entretanto, significa que ela já está bastante avançada e precisa ser combatida o mais rápido possível. Portanto procedimento cirúrgico acaba sendo a maneira mais eficaz de combater a endometriose intestinal. No entanto, nem sempre que a endometriose invade o intestino a cirurgia é obrigatória e isso precisa ficar claro. Antigamente, a principal solução encontrada era a histerectomia, que consistia na remoção do útero com a intenção de evitar a volta da doença.


Graças aos avanços da medicina e no conhecimento sobre a doença, essa medida não é mais utilizada para esse fim, e os procedimento cirúrgicos foram modernizados e tornaram-se pouco invasivos, dentre os exemplos mais avançados estão a cirurgia laparoscópica e a cirurgia robótica. Abaixo você entenderá como esses métodos funcionam e quais são seus benefícios.

Laparoscopia

A laparoscopia, também conhecida como videolaparoscopia, consiste em fazer pequenos incisões na região abdominal para inserção de instrumentos que permitem remover ou ressecar o tecido endometrial que está prejudicando outros órgãos, como ovários, bexiga ou intestinos. Para isso, utilizamos pequenas câmeras de alta resolução, que são conectadas a monitores que auxiliarão o cirurgião a ver com clareza a parte interna do abdômen e utilizamos instrumentos específicos para realizar a cirurgia dentro da cavidade abdominal.

Neste procedimento, há duas principais alternativas para curar o tecido lesionado, que são a excisão ou a ablação endometrial. A primeira consiste na remoção do tecido, enquanto a segunda pode usar congelamento, aquecimento, eletricidade ou laser para eliminá-lo. Após isso, as incisões são fechadas com pequenos pontos.

Os principais benefícios da cirurgia laparoscópica são uma recuperação mais rápida, menor perda de sangue, menos dor, diminuição dos riscos de complicações durante a cirurgia e no período pós-operatório, diminuição do uso de remédios para dor e, por fim, menores incisões, que resultam em cicatrizes pequenas e esteticamente menos incômodas para a paciente.

A laparoscopia é um procedimento cirúrgico e as pacientes precisarão ser internadas para tal. Parece simples, porém o pós-operatório requer alguns cuidados, já que a recuperação completa pode levar de 14 dias a um mês a depender do que será realizado na cirurgia. Quando não há necessidade de mexer nos intestinos e remover alguma lesão sobre eles, a paciente pode ter alta já no primeiro dia após a cirurgia em geral. Quando a cirurgia envolve a remoção de parte do intestino o tempo de internação em média é mais prolongado para observação clínica da recuperação.

Permanecer em repouso relativo a fim de limitar as dores e desconfortos no período pós-operatório é indicado. No entanto, abdicar de esforços excessivos e atividades físicas durante o primeiro mês não costuma ser necessário como na cirurgia aberta tradicional. Além disso, é necessário abster-se de relações sexuais por pelo menos duas semanas após a cirurgia mas essa recomendação fica a critério do ginecologista da equipe. Nesse período, uma alimentação equilibrada e a ingestão de cerca de 1,5 L de água por dia proporcionam um bom processo de cicatrização e recuperação. É possível que o ginecologista marque consultas para acompanhar a paciente, portanto, antes de retomar qualquer atividade, é importante consultá-lo, assim como manter o seguimento com o cirurgião coloproctologista que realizou a resseção das lesões do intestino para se assegurar que o processo de recuperação transcorre de maneira segura.

Uma das principais preocupações de quem se submete à laparoscopia é tornar-se infértil. Porém, pesquisas apontaram que 75% das mulheres com menos de 25 anos, que passaram pelo procedimento, conseguiram engravidar e dar à luz normalmente após suas recuperações. Quando a mulher tem mais de 35 anos, no entanto, passa a ser mais difícil que ela engravide sem a ajuda de tecnologias de reprodução assistida por conta da própria idade da paciente. Mas tudo irá depender do grau de acometimento das lesões de endometriose. Uma boa notícia é que a laparoscopia ainda foi capaz de aumentar as chances de engravidar e de dar à luz em comparação com a cirurgia aberta convencional.


Cirurgia robótica

A cirurgia robótica é uma técnica minimamente invasiva que está disponível desde 2005 e pode ser considerada uma evolução da laparoscopia tradicional. Isso porque as ferramentas inseridas na paciente são conectadas a braços robóticos que são operados pelo cirurgião, o que permite ao médico operar em 3D e ampliar a visualização do tecido em até 15 vezes, fazendo o movimento do instrumento como o punho na vida real, além de deixar os movimentos mais precisos e delicados que a própria laparoscopia. Essas técnicas possibilitam alcançar áreas que seriam difíceis com o método tradicional e agir de forma ainda mais parecida do que seria com a cirurgia aberta mas com todas as vantagens da laparoscopia de precisão e recuperação.

Na verdade, a cirurgia robótica é um auxílio a mais que o cirurgião laparoscopista pode utilizar em favor de suas pacientes.

Há, ainda, um sistema que utiliza imagens de fluorescência que servem para melhorar a identificação de lesões atípicas durante a cirurgia, que poderiam ter sido perdidas com o uso dos equipamentos convencionais mas que também está disponível na laparoscopia tradicional.

Apesar de suas vantagens ainda maiores, a cirurgia robótica não se mostrou superior em resultados do que a cirurgia laparoscópica tradicional e esperamos que suas vantagens se comprovem nos próximos anos.

Ainda é difícil recomendar medidas preventivas para a endometriose intestinal, pois ela está associada a diversos fatores que podem variar de paciente para paciente. Sabe-se, entretanto, que todas as mulheres devem fazer um acompanhamento detalhado de sua saúde reprodutiva com o seu ginecologista, que pedirá exames periódicos capazes de identificar o surgimento da endometriose antes que ela se agrave a ponto de uma cirurgia ser necessária.

Alguns grupos de risco já foram identificados pela medicina, como mulheres que têm casos familiares do problema, nunca engravidaram, se encontram em quadro de obesidade e passam constantemente por situações de estresse, por exemplo. Quem se enquadra em algum desses grupos deve estar ainda mais atenta ao acompanhamento médico.

Os avanços da medicina tornam o tratamento da endometriose intestinal mais simples, isentando a vida das mulheres que sofrem com esse problema de dores e demais complicações causadas pela doença e proporcionando a essas mulheres uma melhor qualidade de vida.

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Dr. Alexandre Bertoncini

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